João Bosco Sousa - jan de 2019 - Texto originalmente publicado na newsletter da Agência IDHAUS
Contemplo o oceano atlântico da praia de Coqueirinho. Entre o zênite e o horizonte, um azul turquesa esplêndido se derrama sobre o mar e me emociono. O calor e o mar vestem os corpos nus de um quente azul. Se usasse os olhos de Homero para definir nesse parágrafo a cor do mar diria que o mar estava cor de vinho. Os antigos gregos não tinham uma palavra para o azul.
O azul não existiria? Estariam eles mais confortáveis em não terem que seguir as “ordens” da senhora ministra dos meninos vestirem azul e as meninas rosa? Somente tempos depois nomearam e “criaram” o azul.
Vivemos no mundo da linguagem, é ela que nos define. Seria possível, por decreto, retrocedermos a uma época em que o azul não existiria ou como na idade média o vermelho pertenceria aos nobres e o azul aos pobres?
Sei que alguns cortariam os pulsos ao terem que usar o execrado vermelho comunista.
O que seria do branco se não fosse o preto? Do verde se não fosse o amarelo? Estamos querendo sempre padronizar e muitas vezes não nos permitimos flanar sobre a diversidade das emoções, dos pensamentos, dos quereres, das cores. Os quadros que mais me emocionam são os azuis de Van Gogh e de Monet.
E não associo o azul a frieza, a depressão, aos não nobres, aos meninos...”azul é a cor mais quente” foi o título de um filme que fez essa inflexão tanto no sentido da cor, como nas questões amorosas relacionais.
Por isto, faço uso dele como inspiração para esse texto. A arte tem essa capacidade de ampliar nossos sentidos, nossa linguagem.
Alguns não querem que a linguagem se expanda, crie novos e diferentes modos humanos de nos relacionarmos, nos amarmos, vermos e construirmos o mundo. Não podemos voltar a um tempo em que algumas cores não existiam. Ou que estávamos fadados a vestir ou nos comportar conforme determinações estranhas, externas, rotulantes.
Queremos viver com liberdade, com amplitude do espectro de luz, de cor, de valores, de linguagem, numa permanente construção do que é vir a ser humano amoroso, generoso e solidário.
Anos depois de eu vir ao mundo, 1972, os passageiros da Apolo 17 fotografaram a “grande dama”, a mãe de todos nós, nossa “deusa”, nossa casa e ela vestia azul. A cor mais quente.
Abracemos a diversidade das cores, da linguagem que nos define, não de maneira enclausurada ou predatória, mas define a maneira que olhamos para o mundo.
Que todas as cores e suas simbologias, sejam apreciadas de maneira a não só existir nesse mundo, mas a transformá-lo. E que a arte nos ensine sobre a nobreza de ser quem somos, ou queremos ser.
João Bosco Sousa e Laura Marquez
João Bosco Sousa é escritor e editor.
Foi convidado pela agência IDHAUS para colaborar com seus pensamentos e ideias para o início de 2019.
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